18 de jun. de 2009

FILIGRANAS DO SÁBIO NASRUDDIN


COMO NASRUDDIN CRIOU A VERDADE

Em dada ocasião, um rei chamou Nasrudin para se consolar:


- Ah, Mullá, estou triste. Meu povo anda mentindo demais, não sei mais o que fazer. O que posso fazer quando o povo me falta com a verdade.


- Acontece, Rei - respondeu Nasrudin - que nem sempre é fácil diferenciar a verdade da mentira.

- Mas é claro que é, Mullá - retrucou o rei - a verdade impele ao bem, enquanto a mentira só visa enganar...

- Essa é a teoria, mas é preciso que todos saibam na prática o que é mentira e o que é verdade...

- As leis não fazem que as pessoas fiquem melhores - disse Nasrudin ao Rei. - Elas precisam, antes, praticar certas coisas de maneira a entrar em sintonia com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.

O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.

O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado:

“Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso minta, será enforcado.”

Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.

— Aonde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.

— Estou a caminho da forca — respondeu Nasrudin, calmamente.

— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.

— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo — respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é verdade: é apenas a sua verdade.



O ANÚNCIO

Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à multidão:
"Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?"
Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando: "Queremos, queremos!"
"Excelente!", disse o Mullá. "Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim."


O BARCO E O HOMEM LETRADO

Em dada ocasião, Nasrudin estava em um barco com um homem letrado, quando o Mullá disse algo que contrariava as regras gramaticais:
-Você nunca estudou gramática? - perguntou o estudioso.
-Não, nunca - respondeu Nasrudin.
-Nesse caso, metade de sua vida se perdeu - retrucou outro.
Nasrudin ficou em silêncio durante algum tempo, quando finalmente falou:
-Você nunca aprendeu a nadar? - disse o Mullá ao homem letrado.
-Não, nunca - este respondeu.
-Então, nesse caso, toda a sua vida se perdeu. Estamos afundando.
Quem teve tempo de realizar esta prática, irá compreender perfeitamente esta interessante fábula sufi:


A FANTASIA

Nasrudin está caminhando, quando alguém o cumprimenta.
- Que tal? - pergunta Nasrudin. - Gostou da minha fantasia?
- Fantasia? - diz o recém-chegado. - Você está igual!
- Não estou igual. Estou disfarçado.
- Disfarçado de que? De você mesmo?
- Exatamente! O disfarce é tão bom, que você nem percebeu!


SAÚDE PARA VENDER

“Eu tenho saúde para dar e vender”, disseram a Mullá Nasrudin. “Então me dê um dos seus rins que eu vendo”, respondeu o Mullá.


A BUSCA DA VERDADE ABSOLUTA

Estava Nasrudin junto a seu Mestre, aprimorando os conhecimentos da alma, na busca da verdade absoluta. Eis que um dia Nasrudin, com seu espírito brincalhão, acabou por infringir os códigos de humildade e simplicidade inerentes ao comportamento dos discípulos. Para que o mulá se apercebesse da gravidade de seu erro, o Mestre transformou Nasrudin num porco, ordenando-lhe que vivesse por um ano no chiqueiro, junto aos outros animais. Perdida a forma humana, mas não a irreverência e a leveza de espírito, Nasrudin facilmente se ambientou e, em poucas horas, se esqueceu completamente da sua origem. Chafurdando alegremente na lama não tardou, com sua contagiante simpatia, a conquistar uma bela e redonda porquinha, que em pouco tempo, deu à luz uma ninhada de filhotinhos gordinhos e saudáveis. Desatento e desligado do tempo, Nasrudin acostumou-se ao chiqueiro e à limitada perspectiva de sua vida suína.
Um ano se passou, e terminado o prazo do castigo, veio o Mestre buscar Nasrudin para devolvê-lo ao convívio dos discípulos:
- Nasrudin, ó Nasrudin!
Abandona essa vida de porco, já que não és porco, mas sim humano, um discípulo que busca a iluminação!
Volte para junto dos seus!
- Quem, eu? - respondeu Nasrudin – Não senhor. O Mestre se engana, nasci assim, sempre fui porco, e esse mar de lama é a única pátria que conheci. Apresento a minha linda porquinha e nossos filhotinhos! Se aqui deixou o Mestre algum discípulo, certamente deve ser outro porco, não eu. Sou feliz, não quero partir.
Nasrudin se esquecera, completamente, da verdadeira identidade, e não foi pouco o esforço despendido pelo Mestre para convencê-lo a abandonar o cenário passageiro de sua punição.
De volta ao eu humano, consciente da graça divina de pertencer, Nasrudin incorporou para sempre os ensinamentos e riquezas da verdadeira humildade."


NASRUDIN E O VARAL

Um vizinho bateu à porta do Nasrudin e pediu:
- Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou?
- Um momento, disse Nasrudin - vou perguntar à minha mulher.
Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho
- Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele.
O vizinho, surpreso, exclamou:
- Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!!
E Nasrudin respondeu:
É... quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele...


O SERMÃO DE NASRUDIN

Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.
Ele concordou.
Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
"Não, não sabemos", responderam em uníssono.
"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa.
Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
"Sim, sabemos".
"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora." E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
"Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada.
"Alguns sabem, outros não."
"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem."
E foi para casa.

O JUMENTO MORRE DE CANSAÇO

Nasrudin resolveu procurar novas técnicas de meditação. Selou seu jumento, foi a Índia, a China, a Mongolia, conversou com todos os grandes mestres, mas nada conseguiu.
Escutou falar que havia um sábio no Nepal: viajou até lá, mas quando subia a montanha para encontra-lo, seu jumento morreu de cansaço. Nasrudin enterrou-o ali mesmo, e chorou de tristeza. Alguém passou, e comentou:
- Você buscava um santo, e este deve ser seu túmulo. Na certa, está lamentando sua morte.
- Não, é o lugar onde enterrei meu jumento, que morreu de cansaço.
- Não acredito - disse o recém-chegado. - Ninguém chora por um jumento morto. Isso deve ser um lugar onde os milagres acontecem, e você quer guarda-lo só para si mesmo.
Por mais que Nasrudin argumentasse, não adiantou. O homem foi até a aldeia vizinha, espalhou a história de um grande mestre que realizava curas em seu túmulo, e logo os peregrinos começaram a chegar.
Aos poucos, a notícia da descoberta do Sábio do Luto Silencioso se espalhou por todo o Nepal - e multidões acorreram ao lugar. Um homem rico foi até ali, achou que tinha sido recompensado, e mandou construir um imponente monumento onde Nasrudin enterrara ´seu mestre´.
Em vista disto, Nasrudin resolveu deixar as coisas como estavam. Mas aprendeu de uma vez por todas que, quando alguém quer acreditar numa mentira, ninguém lhe convencerá ao contrário.


MEU OLHO DÓI!

Um camponês aproximou-se de Nasrudin e queixando-se de que seu olho doía, pediu-lhe um conselho.
Então Hodja disse-lhe:
- Outro dia meu molar doía, e não me acalmei enquanto não o arranquei.


SOBRE OS GURUS

Um famoso guru do povoado pretendia ser capaz de ensinar uma pessoa analfabeta a ler mediante uma técnica relâmpago.
Nasrudin saiu do meio do povo.
— Pois bem, me ensine então.
O guru tocou a testa de Hodja e disse:
— Agora vá imediatamente para sua casa e leia um livro.
Passada meia hora, Nasrudin voltou à praça do mercado com um livro nas mãos. O guru já tinha ido embora.
— E então, você é capaz de ler agora, Hodja? — perguntaram-lhe as pessoas.
— Sim, posso ler, mas este não é o caso. Onde está aquele charlatão?
— Como pode ser um charlatão se fez com que você conseguisse ler sem nenhum aprendizado?
Este livro, que provém de autoridades indiscutíveis, diz:
“Todos os gurus são uma verdadeira fraude”.


A FELICIDADE NÃO ESTÁ ONDE SE PROCURA

Nasrudin encontrou um homem desconsolado sentado à beira do caminho e perguntou-lhe os motivos de tanta aflição.
"Não há nada na vida que interesse, irmão", disse o homem. "Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estou nesta viagem só para procurar algo mais interessante do que a vida que levo em casa. Até agora, eu nada encontrei."
Sem mais palavra, Nasrudin arrancou-lhe a mochila e fugiu com ela estrada abaixo, correndo feito uma lebre. Como conhecia a região, foi capaz de tomar uma boa distância.
A estrada fazia uma curva e Nasrudin foi cortando o caminho por vários atalhos, até que retornou à mesma estrada, muito à frente do homem que havia roubado. Colocou a mochila bem do lado da estrada e escondeu-se à espera do outro.
Logo apareceu o miserável viajante, caminhando pela estrada tortuosa, mais infeliz do que nunca pela perda da mochila. Assim que viu sua propriedade bem ali, à mão, correu para pegá-la, dando gritos de alegria.
"Essa é uma maneira de se produzir felicidade", disse Nasrudin.

EM VISITA A ÍNDIA

O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma de suas movimentadas ruas. De repente viu um homem que estava vendendo o que Nasrudin acreditou que eram doces, ainda que na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grand banquete. Estava muito contente, se sentou em um parque e começou a comer chiles a dentadas.Logo que mordeu o primeiro dos chiles sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles "doces" que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até os pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal estar, mas seguia devorando os chiles. Assombrado, um passante se aproximou e disse-lhe:
- Amigo, não sabe que os chiles só se comem em pequenas quantidades?
Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:
- Bom homem, creia-me, eu pensava que estava comprando doces.
Mas Nasrudin seguia comendo chiles. O passante disse:
- Bom, está bem, mas agora já sabes que não são doces. Por que segues comendo-os?
Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:
- Já que investi neles meu dinheiro, não vou jogá-los fora.
O Grande Mestre disse: Não sejas como Nasrudin. Toma o melhor para tua evolução interior e joga fora o desnecessário ou pernicioso, mesmo que tenhas investido muito dinheiro ou tempo neles.

O SÁBIO MULLAH NASRUDDIN


Num jornal publicado pela Farmácia Santana, há muito tempo atrás, fui apresentada às histórias de Nasruddin, curtas, simples e cômicas. A lição diz: - O sábio ensina o simples, o complicado deixa para o homem.
Assim são as histórias de Nasruddin onde ele próprio protagoniza com uma simplicidade singular, gerando reflexões profundas e devolvendo a face um riso leve e solto de genuína alegria.
O famoso sábio “Mullah Nasruddin”, dizem ter existido e vivido durante o século 13 na Anatólia, ele nasceu no vilarejo de Hortu em Sivrihisar, Eskisehir; depois morou em Aksehir e mais tarde em Konya, onde por fim morreu (Wikipedia). Não vou me alongar na biografia.
O mestre sufi da simplicidade, personagem de várias histórias iniciáticas que transmitem numa aparência simples os ensinamentos mais profundos da alma. As ricas histórias de Nasruddin compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, seita religiosa ou de sabedoria de vida, de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje
Até aos nossos dias, ele concita a dar boas risadas com as bobagens humanas. Várias nações reivindicam o sábio Nasruddin como seu patrimônio, é hilariante o apego humano. Imaginem, os afegãos segurando Nasruddin pelo braço, e ele entregando um braço postiço e sair correndo dizendo: “Sou cidadão do Universo!”. Os turcos amarrando ele na fronteira onde ele passava todos os dias com seus jumentos contrabandeados, e ele entregando as duas cestas. Os iranianos na ponte cobrando a verdade absoluta, e ele fazendo uma mentira tornar-se uma verdade. Os indianos orando pelo mestre ZEN Nasruddin, no local onde ele enterrou o jumento.
Histórias contadas pelo iluminado sábio Nasruddin é um verdadeiro artesanato do psiquismo humano e espiritual. Com sabedoria leva a alegria genuína, para uma percepção aguçada dos paradoxos da vida. Desvelando a construção para a descontrução, a sisudez para a descontração, saída dos símbolos para o simbolizado, do engessamento para o desengessamento, do ilógico para o lógico, do irracional para o racional.
Nasruddin é um tolo, que de tanto fazer tolices se tornou um sábio ou sábio piadista cósmico, que descobriu a grande piada da ilusão material. Na verdade foi de tolices em tolices, dando muitas risadas que ele ofereceu a comida impregnada de sabedoria na boquinha nervosa das criancinhas (espirituais) teimosas viciadas nos “fast food” da vida. Ele ofereceu o alimento sagrado da forma mais singela e hilariante ensinando a dissecar o enigma humano.
Vamos dar boas gargalhadas para desopilar o fígado e compreender a simplicidade deste sábio desintegrador dos condicionamentos brutais do mundo da vida. Basta não escorregar na maionese com as bobagens pessoais e dos seres humanos. E se escorregar vai em frente, que atrás vem gente.


5 de jun. de 2009

BÁAL SHEM TOV


No luminoso caledoscópio da vida planetária, uma grande luz de fina sutileza desceu a terra com o nome Rabi Israel ben Eliezer ou Báal Shem Tov (1698-1760) ficou conhecido como o Rabi místico. Fundador do hassidismo. Sempre houve vários "Baal Shem" ou "mestres do Nome", líderes cabalísticos que acreditam terem descoberto o verdadeiro nome de Deus.
Mas, apenas um, Israel ben Eliezer, recebeu o título de " Báal Shem Tov", ou seja " Bom Mestre do Nome". Sua origem é incerta, mas acredita-se que teria nascido numa vila rural na Polônia.
A ele creditam vários milagres, sobretudo em confronto com espiritos malignos, os quais ele vencia usando como arma a fé e a alegria de viver.
Este Rabi místico tinha na simplicidade seu mister encantador, rezava orações cantadas de modo que agradava muito a Deus, e que Este amava tanto estas orações que concedia tudo que Báal Shem Tov pedia. Toda força deste Rabi místico estava no Poder das oraçoes cantadas. Ele sentia profunda devoção a Deus.
Era um ser compassivo doava amor a todos os seres e tinha a genuina compaixão pelos oprimidos, analfabetos, pobres e simples.
Surge o Chassidismo, em hebraico significa piedoso ou devoto. A principal atuação foi ensinar a Cabalah numa linguagem cotidiana e de fácil compreensão. É uma sínttese de todo pensamento místico judeo, com efeitos práticos. Báal Shem numa reunião com outros místicos ocultos, decidiam a se tornar andarilhos da luz. f oram de aldeia a aldeia plantando a esperança e modificando as estruturas sociais, ajudando nas necessidades, organizando escolas para o povo. A proposta era curar o corpo, a alma e espírito.

Revolução:
Mais ou menos a cada cem anos, surge uma pessoa que muda a maneira de olharmos para nós mesmos e nosso mundo. Ele, ou ela, dirá algo tão revolucionário, tão novo e inesperado – tão contrário às nossas concepções prévias – que a princípio parecerá impossível que seja verdade.

Ele pregava:
Deus é a essência do bem, e a natureza do bem é conceder bondade. Porém a bondade não pode ser concedida se não houver ninguém para recebê-la. Para este fim, Deus criou nosso mundo – para sermos recipientes de Sua bondade.

Deixou inúmeros ensinamentos da piedade, da compaixão e devoção.
Esta estrela humana acessava o numinoso como cantador Divino, para que pudessêmos sair do peso das energias barônticas e adentrar na magia do bosque, escutar o inaudível de suas orações cantadas abrindo o coração para o verdadeiro aprendizado do amor.
Paz Luz aos seres sencientes.

BELAS HISTÓRIAS DE BÁAL SHEM TOV


Um homem bem vestido foi certa vez visitar o Báal Shem Tov, levando-lhe grande soma de dinheiro a ser distribuída para caridade.

"Meu nome é Avigdor" — disse ele. "Sou um mercador bem posicionado na cidade de Brod."

O Báal Shem Tov aceitou o dinheiro e perguntou: "Reb Avigdor, como posso retribuir-lhe? Tem algum pedido a fazer?"

"Não, não tenho" — replicou Avigdor arrogantemente.

"Talvez uma bênção para seu sustento?" sugeriu gentilmente o Báal Shem Tov.

"Rebe, agradeço-lhe" — replicou Avigdor — "mas tenho muito sucesso em meus negócios por vários anos. Tenho uma mente privilegiada e várias empresas, mesmo que uma delas fracassasse, eu ainda teria outras dez, que me proporcionam um lucro considerável. Não tenho preocupações sobre ganhar o sustento, nem reclamações a fazer."

"Graças a Deus" — disse o Báal Shem Tov com ênfase. Sentia pena de um homem tão inconsciente a ponto de não se lembrar que todo o sucesso é devido à bênção de Deus. Nem ao menos lhe ocorreu dizer Baruch Hashem ("Graças a Deus!") por sua fortuna e felicidade.

O Báal Shem Tov tentou um outro ângulo .

"Avigdor, como está sua família? Sua saúde? Seus filhos?" Esperava que Avigdor se lembrasse de dizer "Graças a Deus", ou alguma outra expressão de agradecimento pelas bênçãos de Deus. Mas foi em vão...

"Dizemos toda manhã durante Shacharit" — começou o Báal Shem Tov — ‘Tu, ó Eterno, és entronado com os louvores do Povo de Israel.’ Isso significa que Deus senta-Se em Seu trono e espera que nós O louvemos. Quando um judeu louva Hashem, isso Lhe é mais caro que as preces dos anjos no céu!

"As pessoas podem se esquecer. Justamente quando alguém tem mais sucesso nos negócios e pensa que sua boa sorte brota de sua perseverança e sabedoria, precisa lembrar a si mesmo que é Deus que lhe concedeu este sucesso. Sempre há motivo para ser grato a Hashem, mesmo que seja apenas pelo privilégio de ser judeu e servi-Lo com júbilo."

O santo Báal Shem Tov fez uma pausa para ver se suas palavras tinham causado uma impressão no visitante. Mas como Avigdor não respondesse, o Báal Shem Tov continuou: "Bem, se não posso ser de nenhuma ajuda para você, talvez possa fazer-me um favor. Quando voltar a Brod, entregaria esta carta ao chefe da comunidade?"

O Báal Shem Tov pegou um pedaço de papel, escreveu umas poucas linhas, colocou-o num envelope, fechou-o e entregou-o a Avigdor. "Entregue pessoalmente, por favor, esta carta nas mãos de Reb Tzadok, o Presidente da Comunidade, e a ninguém mais."

Avigdor pôs a carta no bolso e saiu. Em sua viagem de volta a Brod, meditou um pouco sobre as palavras do Rebe. "Não será tão difícil dizer ‘Baruch Hashem’" — pensou consigo mesmo.

E tendo decidido isso, voltou sua mente aos assuntos de negócios.Quando chegou a Brod, já se esquecera de sua resolução. Além disso, trocou rapidamente de roupas ao chegar em casa e apressou-se para uma reunião de negócios. A carta quedou esquecida no bolso do paletó.

Passaram-se dezesseis anos, e a roda da fortuna deu uma volta completa, suas florestas foram destruídas pelo fogo; uma tempestade afundou um de seus navios, e vários devedores deixaram de pagá-lo. Os negócios que tentava saíam errado, até que tornou-se pobre, viu-se obrigado a vender todos os bens de sua casa para poder alimentar a família. Em pouco tempo, nada mais havia para vender exceto um velho paletó, que estava pendurado no canto do armário.

Ao pesquisar nos bolsos, procurando algum rublo esquecido, encontrou a carta que o Báal Shem Tov lhe pedira para entregar há tantos anos. Abalado, os joelhos cederam e caiu desmaiado. De repente, lembrou-se da santa imagem do Rebe, e as palavras de sabedoria ressoaram em sua mente: "Comece a louvar Hashem pelas pródigas bênçãos que Ele lhe concedeu…"

"Que tolo tenho sido, por não dar ouvidos às palavras do Báal Shem Tov" — pensou consigo mesmo. O remorso encheu-lhe o coração e trouxe-lhe lágrimas aos olhos. "Nunca mais esquecerei de dizer Baruch Hashem" — prometeu firmemente a si mesmo.

A escrita no envelope tinha empalidecido mas ainda estava legível. "Para Reb Tsadok, Presidente da Comunidade de Brod — dizia. Saiu apressado e perguntou à primeira pessoa que viu.

"Onde posso encontrar Reb Tsadok?" Avigdor perguntou freneticamente.

"Refere-se a Reb Tsadok, o recém-eleito líder da Comunidade?" inquiriu o estranho.

"Sim, sim, é este o homem" — replicou impacientemente Avigdor.

"Você o encontrará no grande Beit Midrash. Acabei de vê-lo ali. Um grande homem, este Reb Tsadok; exatamente hoje pela manhã, foi eleito chefe da Comunidade."

"Somente esta manhã?!" Avigdor ficou atônito. Desde que seus negócios tinham começado a ir por água abaixo, deixou de se interessar pela comunidade. Perguntou-lhe se conhecia este Reb Tsadok. "Talvez pudesse dizer-me algo sobre ele?" perguntou cortesmente.

"Na verdade, posso" — replicou o judeu. "Lembro-me dele quando ainda era menino. Seus pais eram pobres e não podiam enviá-lo a uma yeshivá. Tornou-se aprendiz de alfaiate e finalmente abriu seu próprio negócio. Não era lá essas coisas como alfaiate, mas ia vivendo. Desnecessário dizer que era um homem pobre, mas não demonstrava. Se alguém lhe perguntasse: ‘Tsadok, como vão os negócios?’ ele sempre dizia: 'Graças a Deus, dá para viver.' Bem, para encurtar a história, há alguns anos ele começou a prosperar. Um rico senhor de terras contratou-o para cuidar das librés dos servos. O cavalheiro adquiriu amizade por ele e não demorou muito, criou uma reputação entre a nobreza, e as encomendas começaram a chover.

"Tsadok contratou a maioria dos alfaiates locais para trabalhar para ele, e estava ficando mais rico a cada dia. Mas não deixou que o sucesso lhe subisse à cabeça. Doava generosamente às causas de caridade, e permaneceu simples como sempre fora. Sua resposta continuou sendo: 'Graças a Deus, está dando para viver.' Quem teria imaginado?

"Bem, hoje ele foi eleito líder da comunidade, e a cidade inteira está celebrando."

Avigdor correu até a sinagoga principal. Reb Tsadok ainda estava lá, e Avigdor entregou-lhe a carta, dizendo com certo constrangimento: "Sinto muito, Reb Tsadok, por estar um pouco atrasado com a entrega desta carta… Perdoe-me, por favor."

Reb Tsadok recebeu o envelope amassado, verificou se estava mesmo endereçado a ele, e abriu-o. Quando leu a data, sua face tornou-se mortalmente pálida. A carta fora datada há dezesseis anos, mas dirigia-se a ele como "chefe da comunidade"! Após tomar um gole d'água, continuou a ler. Na carta, o Báal Shem Tov apresentava o portador como um judeu que tinha sido rico no passado, mas que agora estava necessitado de ajuda financeira. O Báal Shem Tov pedia que Reb Tsadok ajudasse este judeu a reerguer-se na vida. Caso o destinatário duvidasse que a carta era genuína, os dois sinais seguintes deveriam dissipar todas suas dúvidas. Em primeiro lugar, esta carta seria entregue no dia exato de sua eleição como Presidente da Comunidade; em segundo, no mesmo dia sua esposa daria à luz um filho.

Reb Tsadok mal terminara de ler a carta, quando o shammes chegou correndo, ofegante: "Mazel Tov, Reb Tsadok! Sua mulher acaba de ter um menino!"

Ficou sem fala. O santo Báal Shem Tov falecera há vários anos, mas aqui estava uma carta com sua própria caligrafia, que tinha demorado tantos anos para alcançá-lo e mesmo assim chegara a tempo!

Voltou-se para Avigdor e disse:

"Reb Avigdor, não precisa desculpar-se por ter extraviado a carta. Creia-me, ela chegou exatamente na hora certa. Por falar nisso, gostaria de jantar comigo hoje? Eu poderia usar um homem com a sua experiência na minha empresa."

Avigdor simplesmente ficou ali, apalermado. Havia somente uma coisa que poderia dizer: "Baruch Hashem" — exclamou. "Baruch Hashem!"

Graças a Deus!

Graças a Deus!

Graças a Deus!


UM LUGAR NO BOSQUE. BÁAL SHEM TOV



Baal Shem Tov era muito conhecido dentro de uma comunidade, porque todos diziam que ele era um homem tão piedoso, tão bondoso, tão casto e tão puro que DEUS escutava suas palavras quando ele falava.

Havia nesta comunidade uma tradição: todos os que tinham um desejo insatisfeito ou que necessitavam de algo que não tinha conseguido iam ver o rabino.

Ball Shem Tov se reunia com eles uma vez por ano, em um dia especial que ele elegia e levava todos a um lugar único, que só ele conhecia em meio ao bosque.

E uma vez estando ali, conta a lenda que . Baal Shem Tov armava com ramos e folhas secas um fogo de uma forma particular e muito bela, e entoava depois uma oração em uma voz bem baixa... como se fosse para ele mesmo.

E dizem...

Que DEUS gostava tanto destas palavras que Baal Shem Tov dizia, se fascinava tanto como o fogo armado dessa maneira, queria tanto esta reunião nesse lugar no bosque... que não podia resistir ao pedido de Baal Shem Tov e concedia os desejos de todas as pessoas que ali estavam.

Quando o rabino morreu, essa gente se deu conta de que ninguém sabia as palavras que Baal Shem Tov dizia quando iam todos juntos pedir algo... Porém, conheciam o lugar no bosque e sabiam como armar o fogo.

Uma vez por ano, seguindo a tradição que Baal Shem Tov havia instituído, todos os que tinha necessidades e desejos insatisfeitos se reuniam nesse mesmo lugar no bosque, acendiam o fogo da maneira que haviam apreendido como o velho rabino e como não conheciam as palavras, cantavam qualquer canção, recitavam um salmo ou só se olhavam e falavam de qualquer coisas neste mesmo lugar ao redor do fogo.

E dizem...

Que DEUS gostava tanto do fogo aceso, gostava tanto deste lugar no bosque e dessa gente reunida, que mesmo que ninguém dissesse as palavras adequadas, assim mesmo, concedia os desejos a todos os que ali estavam.

O tempo passou e de geração em geração a sabedoria foi se perdendo...

E aqui estamos nós...

Nós não sabemos qual é o lugar no bosque.

Nós não sabemos quais as palavras.

Nem se quer sabemos acender o fogo a maneira que Ball Shem Tov acendiam...

Entretanto, há algo sim que sabemos:

Sabemos esta história, Sabemos este conto...

E dizem...

Que DEUS adora tanto este conto,

Que gosta tanto desta história, Que basta que alguém a escute...

Para que ele, compadecido, Satisfaça qualquer necessidade

E conceda qualquer desejo a todos os que estão compartindo

Desse momento...

Assim Seja!

(O senciente Rabino Ball Shem Tov. Texto traduzido : CUENTOS PARA PENSAR - Jorge Bucay)

3 de jun. de 2009

ANTIGOS RABINOS




Uma bela e ilustrativa estória dos antigos rabinos contada por Jean Yves Leloup:

Num antigo reino, havia um rei e seu único filho herdeiro. O grave problema que o príncipe achava que era um peru e como tal vivia, ciscando e bicando grãos. O preocupado rei já havia tentado todos os tipos de terapia, das ortodoxas às alternativas e todas foram em vão. A verdade é que o príncipe sentia-se muito feliz vivendo como peru. O desesperado pai já estava a ponto de desistir, quando chegou a esse reino um sábio, desconhecido e simples.
Ao saber de sua presença, o rei pediu-lhe ajuda, pelo Amor de Deus, ao que o sábio compadecido, aquiesceu.
Então, para espanto e escândalo de todos. O sábio despiu-se totalmente e começou a ciscar e bicar grãos, como se fosse um peru.
Chocado com a cena, o rei rasgou suas vestes e clamou aos céus em brado.
E depois conformou-se, como é típico dos humanos.

O sábio, sendo um peru aproximou-se do príncipe-peru.

Ao vê-lo, o último protestou:
“O que você está fazendo aqui? Não vê que sou um peru? Deixe-me em paz!”.

Ao que o sábio-peru replicou: “Meu amigo, eu posso parecer um ser humano mas eu sou um peru como você”.

Ah, é...? exclamou o príncipe-peru, redendo-se ao encontro.

Ficaram amigos e o tempo passou.
Um dia, sábio-peru vestiu um short; o príncipe-peru reagiu indignado:

“Você está louco? Nós, os perus somos naturais e não vestimos nada! O que é esta coisa esquisita que você está usando...?

“ O sábio-peru ponderou calmamente: “Meu amigo, isto é secundário. Não é porque eu visto esta roupa que deixarei de ser peru, como você. Isto é insignificante, não se preocupe ? ”

“Ah, é?! Surpreendeu-se o príncipe-peru e acomodou-se.

O tempo passou e um dia o sábio-peru serviu-se de um prato da comida real.

“Você perdeu a razão?! Nós os perus , comemos grãos, minhocas e insetos. Que coisa esquisita é esta no seu prato? Denunciou revoltado o príncipe-peru.

“Querido Amigo, isto é secundário. O Que entra em nossos bicos não tem tanta importância; eu sigo como um peru, como você. Porque se perturbar com coisas insignificantes"

“Ah, é..?! acalmou-se o príncipe-peru.

O tempo passou e outros episódios similares sucederam-se.

Até que, numa manhã radiosa, o príncipe-peru sentou-se no trono real, para alegria de todos.

Ele havia retornado ao que era de fato, porque teve alguém que foi até ele onde ele se encontrava, ciscou e bicou grãos com ele e, passo a passo, facilitou que ele despertasse para sua REAL NATUREZA DE FILHO DO REI.


Esta estória nos faz recordar a presença dos pedagogos siderais que vieram ao planeta, para nos lembrar da filiação Divina. O Príncipe caiu em si, saiu das periferias do "Eu Pecador" para adentrar no centro do "Eu Redentor". A beleza da auto-comprensão transborda em auto-realização. É a gloriosa conquista da liberdade. A imersão no mundo rasteiro de uma vida material, do qual estava ingressado na pele de PERU, fez uma intercorrência ao egresso do Eu que levou ao regresso ao Divino Pai. Entre o ponto de partida e da volta, ocorreu uma grande evolução. Por isso, nunca somos iguais, ao que fomos quando partimos. A nossa chegada inclui a saida e o crescimento espiritual da trajetória percorrida.
Que os seres sencientes possam saciar da luz transbordante de amor, respirando-a, inspirando-a e conspirando para o despertar da consciência dormente, e caminhar em direção ao regresso... ao super regresso...
Amor e Plenitude aos despertos!

Referência bibliográfica:
1. CREMA, Roberto. Saúde e Plenitude, um Caminho para o Ser. 2ª Edição. São Paulo. Summus Editorial, 1995.