25 de out. de 2009

A VACUIDADE DO ESPÍRITO


“Um recipiente só é utilizável quando está vazio, e um espírito cheio de crenças, dogmas, afirmações e citações, é na verdade um espírito estéril, uma máquina de repetição. Deste estado de vazio é que tentamos sempre fugir por todos os meios. E é por isso que a solidão é perigosa. Ela nos coloca em estado de receptividade. Procuramos, então, aquilo que chamamos de divertimentos, encher o silencio por barulho que, transportando-nos ao passado ou ao futuro, nos afastam do vazio. Mobiliamos a solidão com pensamentos defensivos. Mas esta vacuidade não desaparece. Nós a negamos mas não chegamos a destruí-la. Se você chegar à evasão total irá parar num asilo de loucos onde se tornará completamente estúpido. E é exatamente isso o que acontece hoje no mundo”. A única solução para não se temer esta vacuidade é não fugir dela e ver a realidade cara a cara, sem palavras, sem pensamentos.

“O vazio criador não pode ser produzido enquanto o pensador estiver atento e for observador, a fim de consolidar sua experiência. Se você quiser esta experiência, a terá. Mas não será o vazio criador. Será a projeção do seu desejo, a ilusão. Mas comece a observar, a ser consciente de suas atividades em cada instante, a olhar o conjunto do seu processo como um espelho, e à medida que se aprofundar chegará, finalmente, , a esta vacuidade que somente pode produzir a renovação. O estado de vazio criador não se cultiva; ele chega sem ser convidado. E somente nele pode acontecer a revolução criadora.”

Esta vacuidade se faz presente quando a vemos como um abismo. Quando a procuramos ela escapa. Ela não tem lugar, não tem solidez, e por isso mesmo, por causa desta fluidez, é que aparece somente àquele que não sabe.

“As idéias não são a verdade. A verdade deve ser vivida plenamente, de momento a momento. Isto é a verdade. A capacidade de abordar tudo, instante a instante, à maneira de um ser novo, não condicionado pelo passado, de maneira que não existam mais efeitos cumulativos agindo como uma barreira entre o eu e aquilo que é. A idéia só para quando há amor. E este não é memória nem experiência. O amor não pensa.”

A mobilidade da verdade precisa de uma grande mobilidade de ação acessível àquele que não se prende a nada, àquele que é livre como o vento por que viu a realidade. A rapidez de sua percepção engloba a verdade que é através de todas as evoluções. Não há mais fixidez, fórmulas, mas liberdade luminosa. Isento de toda formação, ele não é prisioneiro de nenhuma fórmula, não há mais busca ou espera da realidade. Os limites do pensamento foram ultrapassados, ele atingiu o inexprimível, o “sem palavras”. “Se a verdade era um ponto fixo, não era a verdade, mas apenas uma opinião. A verdade é o desconhecido e aquele que a busca nunca a encontrará, porque todos os elementos que a compõem pertencem ao conhecido. O espírito é o resultado do passado, um produto do tempo. É o instrumento do conhecido e não pode descobrir o desconhecido. Pode ir apenas do conhecido ao conhecido.”


Krishnamurti


Jiddu Krishnamurti nasceu no Sul da Índia em 1895 e a partir dos treze anos de idade passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava o veículo para o "Instrutor do Mundo", cujo advento proclamavam. Krishnamurti logo emergiu como um poderoso, descompromissado e inclassificável instrutor, cujas palestras e escritos não estavam vinculados a nenhuma religião específica, não sendo do Oriente nem do Ocidente, mas para o mundo todo. Repudiando com firmeza a imagem messiânica, em 1929 dissolveu dramaticamente a grande e rica organização que havia sido criada à sua volta, e declarou ser a verdade "uma terra sem caminhos", à qual nenhuma religião formalizada, filosofia ou seita daria acesso. Embora não tenha ligações com nenhuma organização filosófico-religiosa nem se apresente com títulos universitários, fez inúmeras conferências para grupos de líderes intelectuais nas maiores cidades do mundo, durante muitos anos de sua vida.


Fonte: CUIDAR DO SER - Av. Zunkeller, 57 - Alto do Mandaqui - São Paulo - SP -
Tel.: (11) 6258-6590 - sac@cuidardoser.com.br

16 comentários:

angela disse...

É muito grande isso de se desapegar da estrutura financeira e de idealização.
Não querer ser santo, nem dono de igreja.
O tema é bonito e dificil, apesar de sua simplicidade.
beijos

Viveka disse...

Um recipiente só é utilizável quando está vazio, e um espírito cheio de crenças, dogmas, afirmações e citações, é na verdade um espírito estéril, uma máquina de repetição.

Taí Amiga, a dificuldade da meditação, esvaziar, esse estado que fugimos muito.
A mente é o macaco bravo, que não para de pular de um lugar p/ outro.

Bj

Tereza Ferraz disse...

Querida amiga.
Aqui chegar e ver ler Krishnamurti, é “sem palavras”
E novamente: que muitos aqui passem e leiam sentindo.
Que bela sincronia...
Um linda semana.
Bjs no coração

Norma Villares disse...

É Angela, muito difícil, mas não é impossível.
Teste pra ver!
Vai ficar surpresa, pelos ganhos. E vai ver que o custo e benefício, vale a pena fazer esforço.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

É Tereza, Krishnamurti, é realmente um homem sem fronteiras. Sem palavras para explicar esse ser tão LARGOOOOO de plenitude.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

Olá Viveka, é isso mesmo esvaziar esse recipiente cheio de tanta coisa, é muito difícil. Mas possível.
Domar esse macaco bravo é a meta.
Um grande abraço

Jorge disse...

O objetivo na vida é a plena conquista de nós mesmos. E passa naturalmente pelo processo de limpeza das coisas pesadas que carregamos. O que acho maravilhoso é que este processo de conquista só depende de nós. Só nos podemos lastimar da falta de esforço para tanto.
É possível, tanto que temos constantemente a chance de nos burilarmos.

Norma, valeu por mais este post, agora do Grande Krishnamurti

Norma, um abração!!!

Jorge

Hugo Cheng disse...

Que díficil é chegar a esse vazio. Sabamos que é o objetivo na vida, mas essa conquista requer muita disciplina mental.
O Grande Krishnamurti, o ser humano que mais pregou a liberdade.
Abra

Norma Villares disse...

Olá Jorge, obrigada pela visita.
Esse é o verdadeiro o objetivo na vida é a plena conquista de nós mesmos.
O HOMEM DE BEM é um ser humano esforçado em realizar caa dia uma parte desse aprendizado.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

Olá Hugo, obrigada pela visita.
Realmente é muito díficil chegar a esse vazio. Esse é o verdadeiro o objetivo na vida é a plena conquista de nós mesmos, e tem que ter muito esforço e disciplina.
O Grande Krishnamurti, foi um TRANS HUMANO que realizou a liberdade plena.

Um grande abraço

Peregrina da Luz disse...

Eu tb adorei esse texto, ele trlhou o caminha de autenticidade, por isso foi liberto. Muito bom.
Boa semana bem cheia de alegria
Beijinhos

Marcos Takata disse...

Esse ensinamento no Zen é muito diversificado, a meditação Zen sempre procurar esavaziar esse recipiente cheio de coisas. E somente depois de esvaziar pode ouvir os som de Deus.
Somos cheio de crenças, dogmas, afirmações ...
Somos essa confusão mental diária.
A grande dificuldade da meditação.
A mente é o macaco é muito rebelde, vai de um galho para outro, o tempo todo.
Bijus

Jorge disse...

Oi, Norma!!!

Tem um selo que te ofereço, de coração.
Passa lá no meu bloguinho, tá bom?

Beijo,

Jorge

Arcanum disse...

Maravilhoso texto. Abraços.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

..."o amor não pensa". O amor fica no âmbito do sentir e não do pensar. Ele apenas É... Não há contornos, limites, finitude. Ao contrário ele transcede tempo, espaço e dimensão. É o nutriente de nossa alma. Norminha, você e seus posts magníficos! Beijos.

Clara disse...

Que bom ler Krishnamurti, é maravilhoso.
Bjs no coração