29 de nov. de 2009

DESERTO... DESERTO... Jean Yves Leloup



"As crises que atravessamos, quer seja em um nível pessoal, coletivo ou cósmico, podem ser ocasiões (kairós) de voltar ao 'essencial' de escolher 'o único e necessário' que tornará a nossa vida e a da Humanidade não apenas possível, mas justa e feliz.

Na procura dessa essência e do único necessário, precisamos enfrentar encruzilhadas da vida, trilhar desertos que as difuldades inóspitas forjaram para o amadurecimento do ser.

Cada Ser Humano tem seu deserto para atravessar.

Essa trilha é de inteira responsabilidade pessoal, são inúmeras tradições espirituais da humanidade que apresentam o deserto como local para construção de um novo ser. Na verdade o deserto pode até ser um local... e também não ser local nenhum. Paradoxos, meu caro(a)!
Mas evoca um 'estado' da alma de silêncio, e de partida e de encontro consigo mesmo, permitindo-nos verificar os elementos dos quais o ícone é composto, as cores e as formas que o estruturam, e as razões que explicam seu poder inspirador.



Eis o convite
Partir para o deserto
Ir-se embora
Caminhar ... ir mais além
Ilimitado

Para o além do além
Mais longe ainda
De si mesmo

Transpirar e voltar
E diante de tudo resgatar
O grande encontro consigo mesmo

Para ficar bem perto de si mesmo
Bem mais perto
Pertinho


"Ir para o deserto é, em primeiro lugar, "partir em direção a si mesmo" e é a isto que somos convidados. Para realmente conhecer a si mesmo é preciso "deixar" para trás várias memórias que confundimos com nossa identidade. Deixar o conhecido, o reconhecido que cremos ser, pelo desconhecido, o não-conhecido que somos. Quando a consciência se cala, quando ela não tem mais palavras, imagens, ou conceitos a dizer, entramos em um espaço infinito que é simbolizado pelo espaço sem limites do deserto."

O que evoca para nós a palavra deserto?

Areias quentes, silêncio, imensidão, vento abrasador? Não apenas. Evoca também sede, miragens, escorpiões... e o encontro do mais simples de si mesmo no olhar assombrado e surpreso do homem ou da criança que brota não se sabe de onde – entre as dunas?

Existem os desertos de pedras e de areias, o deserto do Hoggar, de Assekrem, de Ténéré e do Sinai e de outros lugares ainda... o deserto é sempre o alhures, o outro lugar, um alhures que nos conduz para o mais próximo de nós mesmos.

Existem os desertos na moda, onde a multidão se vai encontrar como um pode tagarela, em espaços escolhidos, onde nos serão poupadas as queimaduras do vento e as sedes radicais; deles se volta bronzeado como de uma temporada na praia, mas ainda por cima, com pretensões à “grande experiência”, que nos transformaria para sempre em “grandes nômades”...

Existem, enfim, os desertos interiores. Temos que falar deles, saber reconhecer o que apresentam de doloroso e tórrido, mas tentando também descobrir, aí, a fonte escondida, o oásis, a presença inesperada que nos recebe, debaixo de uma palmeira sorridente, em redor de uma fogueira onde a dança dos “passantes” se junta à das estrelas. Pois o deserto não constitui uma meta; é, antes, um lugar de passagem, uma travessia. Cada um, então, tem a sua própria terra prometida, sua expectativa que deverá ser frustrada, sua esperança a esclarecer.

Algumas pessoas vivem esta experiência do deserto no próprio corpo; quer isto se chame envelhecer, adoecer ou sofrer as conseqüências de um acidente. Esse deserto às vezes demora muito a ser atravessado.

Outras pessoas vivem o deserto no coração das suas relações, deserto do desejo ou do amor, das secas ou dos aborrecimentos que não aprendemos a compartilhar.

Há também os desertos da inteligência, onde o mais sábio vai esbarrar no incompreensível e o mas consciente no impensável. Só conseguimos conhecer o mundo e as suas matérias, a nós mesmos e às nossas memórias quando atravessamos os desertos.

Temos, finalmente, o deserto da fé, o crepúsculo das idéias e dos ídolos, que havíamos transformado em deuses ou em um Deus, para dar segurança às nossas impotências e abafar as nossas mais vivas perguntas.

Cada pessoa tem seu próprio deserto a atravessar. E a cada vez será necessário desmascarar as miragens e também contemplar os milagres: o instante, a aliança, a douta ignorância e a fecunda vacuidade.

"Sem a página em branco onde ficariam as palavras?

Não foi no deserto que o homem inventou Deus?

Na ausência das coisas ou no seu silêncio descobrimos a Presença que para sempre as conterá: Evidente, mortal e viva vacuidade...

No deserto não há nada a ser visto e é isto que precisamos ver ao menos uma vez na vida: nada ver com os olhos bem abertos.

E a morte não terá, então, nada mais a nos ensinar."

No deserto
Descobre-se
A pátria

E então vem a partida
Da grande miragem comum

No deserto
Duas certezas:
A sede - a poeira.
Entre estas duas
Certezas:
Uma dúvida
Um desejo:
Água!...




Roberto Crema também fala sobre as inúmeras questões a cerca do Deserto!
A tradição dos Terapeutas do Deserto, e oferece um olhar sobre o ser humano que respeita suas diversas dimensões: o corpo, a psique, a consciência e a essência, em busca da Inteireza Humana. O quanto de deserto existe na escuta e na visão?

Que terrenos inóspitos!

A tarefa do terapeuta é mostrar que, a iniciação na prática visionária que os inspirou é possível para todos, basta ensinar e permitir caminhar além de roteiros... as vozes clamam.


Vozes do deserto se levantam,
para os preparados para escutar
a mensagem dos camelos
em lenta e precisa Caravana.

Vestes ao vento, véu no rosto,
que protege e realça o mistério do olhar.

Espada na mão,
para cortar o fio da ilusão.

Amor no peito, qual chama a brilhar
e a transmutar a dor em flor.

Abismos, abismos e abismos
onde me lanço qual pedra no poço,
alma.

Mensagens vastas, de travessia da imensidão desértica, vacuidade fecunda, rumo ao Oásis de uma plenitude possível, de um sorriso apaziguado.

O deserto é o que nos murmura, docemente:

Tudo é miragem, tudo passa.
Exceto o Ser, exceto o Amor.



Roberto Crema

8 comentários:

angela disse...

Interessante as analogias que ele faz com os varios desertos e necessidade de atravessa-los para encontrar a si.
beijos

Jorge disse...

Norma
tem uma frase que diz mais ou menos assim: que a maior distância que um homem queira conseguir atingir, não é maior, aliás, é bem menor do que a distância que deve o homem atingir: o fundo do próprio coração.
O deserto é longo, difícil, mas sempre com oásis no caminho. Valorizemos o oásis para encarar os desertos que deveremos atravessar.

Deixo, meu anjo, um beijo de luz,
Jorge

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Norminha Querida, quanto nutriente para a alma encontro neste seu cantinho tão bonito! Há uma Paz de pano de fundo, como um Templo onde se medita e contempla-se as profundezas do ser... Gosto muito destes textos com toda esta magnificência de Leloup e Roberto Crema. Ótimas sugestões de livros! Abençoado seja seu ser que tanta luz irradia aos demais! Beijo. P.S. Há uma declaração de afeto para você em meu blog.

Marcos Takata disse...

Namasté
Amiga de luz.
Olá, Mulher de grande sabedoria. Feliz Aniversário.
Que tenhas muitas alegrias em sua vida, com paz, e harmonia.
Bijus

Jorge Nectan disse...

Norma,
Não sabia do seu aniversário. Cadê o bolo...rs
Não sendo coincidência, tenho prá ti uma declaração de afeto,com muito carinho.

Que o teu coração brilhe cada vez mais para podermos te seguir cada vez melhor.

Uman

Unknown disse...

Querida amiga!
Deixei um presentinho para ti la no Eu Sei Que Vou Te Amar!

Beijos, flores e muitos sorrisos!

Norma Villares disse...

Muito ob rigada am igos pela visita e gentileza de postar comentário.
A você Marcos, um especial abraço pela presença tão benfazeja em minha vida.
Abraços sublimes

Norma Villares disse...

Obrigada Carmem, vou buscar. Abraços sublimes