11 de nov. de 2009

ZEN E O TRABALHO


O zen budismo pode significar uma fonte inspiradora para o paradigma ocidental em crise bem como para a vida cotidiana. Isso porque o zen não é uma teoria ou filosofia. É uma prática de vida que se inscreve na tradição das grandes sabedorias da humanidade.

O zen pode ser vivido pelas mais diferentes pessoas, simples donas de casa, empresários e pessoas religiosas de diferentes credos.


O centro para o zen budismo não está na razão, tão importante para a nossa cultura ocidental. Mas na consciência. Para nós a consciência é algo mental. Para o zen budismo cada sentido corporal possui a sua consciência: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. Um sexto é a razão. Tudo se concentra em ativar com a maior atenção possível cada uma destas consciências, a partir das coisas do dia-a-dia. Possuir uma atitude zen é discernir cada nuance do verde, perceber cada ruído, sentir cada cheiro, aperceber-se de cada toque. E estar atento às perambulações da razão no seu fluxo interminável.

Por isso, o zen se constrói sobre a concentração, a atenção, o cuidado e a inteireza em tudo aquilo que se faz. Por exemplo, expulsar um gato da poltrona pode ser zen; também libertar os cachorros do canil e deixá-lo correr pelo no jardim.

Conta-se que um guerreiro samurai antes de uma batalha visitou um mestre zen e lhe perguntou: "que é o céu e o inferno"?

- O mestre respondeu: "para gente armada como você não perco nenhum minuto". O samurai enfurecido tirou a espada e disse: "por tal senvergonhice poderia matá-lo agora mesmo".

E
aí disse-lhe calmamente o mestre: "eis aí o inferno".

O
samurai caiu em si com a calma do mestre, meteu a espada na bainha e foi embora. E o mestre lhe gritou atrás: "eis ai o céu."


O que a atitude zen visa, é a completa integração da pessoa com a realidade que vive. Deparamo-nos no meio de diferenças, compartimentando nossa vida. O zen busca o vazio. Mas esse vazio não é vazio. É o espaço livre no qual tudo pode se formar. Por isso não podemos ficar presos a isto e àquilo.

Quando um discípulo perguntou ao mestre: "quem somos"? respondeu apontando simplesmente para o universo: "somos tudo isso". Você é a planta, a árvore, a montanha, a estrela, o inteiro universo.

Quando nos concentramos totalmente em tais realidades, nos identificamos com elas. Mas isso só é possível se ficarmos vazios e permitirmos que as coisas nos tomem totalmente. O pequeno eu desaparece para surgir o eu profundo. Então somos um com o todo. Este caminho exige muita disciplina. Não é nada fácil ultrapassar as flutuações de cada uma das consciências e criar um centro unificador.


Há uma base cosmológica para a busca desta unidade originária. Hoje sabemos que todos os seres provém dos elementos físicoquímicos que se forjaram no coração das grandes estrelas vermelhas que depois explodiram. Todos estávamos um dia juntos naquele coração incandescente. Guardamos uma memória cósmica desta nossa ancestralidade.

Depois, sabemos também que possuímos o mesmo código genético de base presente em todos os demais seres vivos. Viemos de uma bactéria primordial surgida há 3,8 bilhões de anos. Formamos a única e sagrada comunidade de vida.

Ao buscar um centro unificador, o zen nos convida a fazer esta viagem interior. É escusado dizer que tudo isso vale para todos mas principalmente para mim.


Fonte:
Leonardo Boff é Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra


12 comentários:

Julimar Murat disse...

Oi Norma
Esta frase me chamou a atenção:

"Quando nos concentramos totalmente em tais realidades, nos identificamos com elas."

E isto é em todas situaçoes. Acreditamos ser aquilo que pensamos ser. Acreditamos na realidade que nos apresenta, mas a partir do momento que vamos além podemos ser muiot mais.

Estamos ainda muito limitados ao que a visão nos apresenta, aos que os ouvido escutam, é necessário sentirmos mais com alma, a fim de vermos e ouvirmos um mundo mais real.

Um grande beijo

Julimar

Jorge Nectan disse...

Essa questão de integração, me faz lembrar o filme Matrix, quando Neo se integrava a toda realidade não real.

Norma, deixo em teu coração um doce beijo

Uman

Norma Villares disse...

Unknown man é verdade lembra MATRIX quando quando Neo se integrava a toda realidade não real. Que bom lembrou de desse filme, pois é muito interessante.
Um abraço com luzes das estrelas

Norma Villares disse...

Julimar Murat você acertou em cheio:
Essa frase:
"Quando nos concentramos totalmente em tais realidades, nos identificamos com elas."
São realidades que tomam forma.
um abraço com luzes das estrelas

Maria José Rezende de Lacerda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria José Rezende de Lacerda disse...

Norma. O mais interessante na prática do Zen Budismo é o conhecimento de si mesmo.
Tem um selo de presente para você em SELO: BLOG INSTIGANTE, dado com muito carinho. Beijos.

Norma Villares disse...

Que beleza mais um selinho. Fiquei feliz em vir visitar meu blog e me presentear.
Irradiações de luz para seu dia.
Abraços estrelados

Marcos Takata disse...

O ZEN prega exatamente isso, na desindentificação. E o grande mal da humanidade é identificação e por isso mata e morre. Essa forma de ver e enxergar apresenta-se na realidade.
Namasté
Bijus

Marcos Takata disse...

Namasté
Hoje é o da gentileza, muito obrigada pela sua presença em minha vida.
Bijus

Norma Villares disse...

Muito obrigada Marcos pela gentileza e sensibilidade.Abraços estrelados

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Norminha, que texto bonito de Leonardo Boff! Lembra-me a reflexão da Monja Coen (zen budismo) ao esclarecer que zen, significa estar desperto. E na Psicologia, despertar para nossa essência e a partir daí para tudo que nos constitui interna e externamente. Um ótimo fim de semana para você! Beijinhos. Meu afeto.

Unknown disse...

Norma, querida... Simplesmente A D O R O este teu espaco...
E este post esta' muuuuuuuuuuuito bom! Gostei!
Muitos beijos, flores e muitos sorrisos... zen!!! :o)


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