4 de mar. de 2010

EXPERIÊNCIA FASCINANTE x ATERRORIZANTE



"As portas da percepção são os sentidos,

quando se os transcende, tudo o que resta é o infinito"

(William Blake - 1757-1827)



Não existe fórmulas mágicas para construir a capacidade de ficar presente e de sentir a LUZ CONSCIENTE. É preciso mudar o paradigma, o modo de pensar, e iniciar a viver a experiência do 'aqui e agora' consciente que essa luz que tudo alumia também alumia a nossa alma.


Ela não está fora, ela está dentro em cada um de nós.


No inicio do caminho do auto-conhecimento, o buscador sincero tentará por todos os meios de práticas externas, buscando fora dele mesmo, e as encontrará... sim as encontrará. Mas amadurece e percebe num belo dia a grande descoberta, de que é necessário retornar ao caminho de uma intimidade pessoal. Acorda para a vida e nesse estágio de interioridade o caminheiro estará sozinho nesta trilha do auto-conhecimento, levando solitariamente os seus pés as vias de auto-centramento e da meditação.


E os direcionamentos que norteiam os procedimentos de crescimento e desenvolvimento individual esta na célebre frase inscrita no portal do templo de Delfos, na antiga Grécia:


“Conhece a ti mesmo”.


E o anacoreta perguntará: Quem sou EU?


Eis a pergunta chave que deve ser respondida na entrada do Grande Portal do auto-conhecimento.


E falando nesse processo, lembramos que é preciso trilhar nos campos da limitações enquanto ser humano.


Eva Broch Pierrakos ensina:

“Cada um de vocês... tem de aceitar as suas limitações como ser humano antes que possa perceber que possui uma fonte ilimitada de poder à sua disposição... [e] antes que possa experimentar aquela perfeição absoluta que por fim descobrirá o que é o seu destino”.


Nesse momento compreendemos que é preciso navegar pelos mares bravios e sombrios da mente nunca dantes navegado. Nesse vasto campo das limitações iniciamos ao entendimento e aceitação da sombra. Vivenciamos uma fase aterrorizante, a alma caminha no lodo do lodo, mas precisa passar para o outro lado... Encontraremos toda sorte de dificuldades, espinhos, dores físicas, emocionais e espirituais.


Segundo Paulo Urban, é preciso atravessar as águas oceânicas da Mitologia Pessoal, cumpre elevar a consciência às experiências mais transformadoras, àquelas que a alma, em seu caminho de autoconhecimento, necessita verdadeiramente experimentar.


Sim, é preciso atravessar os grandes mares da mitologia pessoal, para encontrar a essência vital é atravessar a ponte que liga a sombra da luz.


Roberto Crema como pedagogo da alma discorre sobre a sombra:


"Somos prisioneiros de tudo que negamos na realidade. Tudo que rejeitamos em nós, transmuta-se em obsessão, aderindo ao tecido subcutâneo de nossa identidade; torna-se grilhões e tocaia, constitui-se da sombra."


Esta é fase de detectar: A sombra da sombra que assombra a gente.


E o pior que nesta etapa não conseguirá partilhar com ninguém a não ser com os grandes mestres da ancestralidade espiritual e histórica. E com eles que manterá diálogos íntimos, verterá lágrimas de sangue sob seus ombros. Essa é uma experiência aterrorizante, com episódios lancinantes e assombrosos.


Segundo São João da Cruz esta é a "Noite Escura Da Alma", a qual ele viveu, sorveu e bebeu até a última gota desta água salgada do oceano da vida. Ele foi primeiro místico a relatar acerca desta fase aterrorizante.


O Iniciado desenvolverá uma força hercúlea para construir estados meditativos de conexão, é a solidão Cósmica que se fará presente nessa iniciação. A verdade é que trata-se de um caminho extremamente solitário.




“O homem é seu livro de estudo. Ele precisa apenas ir virando as páginas deste livro e descobrir o autor.” Jean Yves Leloup descreve com sabedoria...


Viver construindo a lapidação lúcida, ousar desenvolver um espaço onde o novo ser humano possa ser desvelado e cultivado em sua extensão, altitude e profundidade, de uma forma acolhedora e inclusiva em todas suas dimensões.


Abrindo novas picadas para aplicar os princípios da mística; meditar, calar, ouvir, nada julgar e assimilar.


E só depois paulatinamente elevar a consciência para experiências vívidas transformadoras, onde a inteligência hermenêutica possibilite a tarefa fundamental de interpretar as nossas experiências, dando-lhe sentido e orientação. Instalar o discernimento para instigá-la à evolução consciencial.


O peregrino precisa saber e ter certeza de que realmente quer buscar o desvelamento da luz verdadeira. E no caminho de peregrinação interior, não devemos confundir luz com sombra clara. Existem sombras inebriantes que só selam nosso destino e antecipam o encontro com nosso karma.

O homem sábio é aquele que procura DEUS;

O mais bem sucedido é aquele que encontrou DEUS.

Paramahansa Yogananda

.

Essa jornada interior é árdua, requer disciplina, mas pouco a pouco vai aflorando esse estado de união compassiva com a própria essência e então vislumbra... Inicia um deslumbramento da força e da luz desta trilha sendeira. O aprendiz segue em direção à consciência de luz, na fase de nadar no rio da existência desenvolvendo a ecologia do ser.


A própria ressurreição do novo estado, surgirá como um processo natural e inevitavelmente concretiza a experiência com o numinoso. Essa experiência transmundana é única e extremamente prazerosa, e que inexiste palavras para traduzir a experiência com o inefável. Com a união com o Divino transforma o ser humano num buscador sincero dessa verdade.

A alma que experiência ou vislumbra esses estados superiores, mesmo por um lapso nunca mais volta atrás ou retorna ao caminho mundano. Os diálogos com os seres de luz será com doçura e paciência, sempre manterá conversas na montanha existencial...


Essa é uma experiência fascinante.


O fascínio pelo caminho regenera e fortifica a alma, sem as chaves corretas o sentido original se perde. E com sintonia amorosa e compassiva com o Absoluto, evocação do Ser, já que nos tornamos o que invocamos.


Compreendemos este caminho vivencial que o ser humano recapitula todos os elementos e reinos do Universo. Com a consciência de que tudo é mutável, tona-se possível completar as faltas e reparar distorções, ascendendo e descendendo ao mesmo tempo, para o alto e profundo desta viagem evolutiva.


É reveladora e tocante esta passagem na escuta essencial do “VIR A SER”. Envolve todo mistério de nossa inteireza, no observatório da vida individual.


E o poeta Gonzaguinha nos ensina:


Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar... A beleza de ser um eterno aprendiz...



Eis o supremo desafio da existência humana.

Ser eterno aprendiz.

Paz Profunda!



Fonte:
1. Severino Roque E. I Ching. Uma abordagem Psicologica e Espiritual. Editora Ícone, São Paulo, 1994;
2. Dhammapada Caminho da Lei. Atthaka O livro das Oitavas. Doutrina Budista Ortodoxa em versos. Tradução: Dr. George da Silva. Editora Pensamento, São Paulo, 1978;
3. Pierrakos Eva Broch.O Caminho da Auto Transformação.(The Pathwork of Sel-Transformation). Editora Cultrix, tradutores: Euclides L Calloni, Cleusa M. Wosograu. 10ª Edição, São Paulo 1978.
4. Crema Roberto. Saúde e plenitude. Um caminho para o Ser. Editora Summus, 3ª edição, São Paulo-SP, 1995.

5 comentários:

Tereza Kawall disse...

Lindos texto, ótimos comentários, continue assim bem inspirada e sintonizada, Norma,
um bj
Tereza

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Norminha, minha querida amiga de alma, que análise maravilhosa! Um cenário lindíssimo através das reflexões dos meus tão preferidos: Eva Pierrakos, Roberto Crema, Yogananga, Blake... Realmente, quando se transcende a percepção dos sentidos, nos aproximamos daquilo que considero o real, o essencial, e por assim dizer, o infinito. Continue irradiando a luz de sua alma! Beijo. Meu carinho.

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Adorei a imagem selecionada para o texto! Paz Profunda!

angela disse...

Você escreveu um texto bonito e cheio de sabedoria. Escolheu ótimos "parceiros".
beijos

Jorge disse...

Norma!!!

Belíssimo texto.
Este o caminho único à felicidade, a auto-felicidade. Encontrar Deus é encontrar a si mesmo.

Anjo, Sempre com carinho e um beijo,
Jorge