8 de jun. de 2010

O TELEGRAMA ESPIRITUAL


(Do Livro Autobiografia de um Iogue)

Aos 33 anos, Láhiri Mahásaya viu cumprir-se o designio para o qual se reencarnara na terra. Encontrou seu grande guru, Bábaji, perto de Ranikhet, no Himalaya e foi por ele iniciado em Kriya Yoga.O rio celestial de Kriya Yoga começou a fluir das secretas fortalezas do Himalaia para as ressequidas moradas dos homens.

(Nota: Láhiri Mahásaya era funcionário do Departamento de Engenharia Militar do governo inglês em Danapur e recebeu um telegrama da matriz com inesperada transferência para Ranikhet, no Himalaia, distante 800 quilômetros, onde era instalada nova base militar. )

"Meu trabalho burocrático não era absorvente; eu podia passar horas perambulando pelas montanhas.

Durante um passeio a esmo nas primeiras horas da tarde, fiquei assombrado ao ouvir uma voz longínqua chamar pelo meu nome.

Continuei com vivacidade e vigor, minha ascensão ao Monte Drongiri.

Cheguei por fim, a uma pequena clareira, em cujos limites se abria uma pequena fileira de cavernas. Num dos bordos rochosos encontrava-se um rapaz sorridente, com a mão estendida para cima, em gesto de boas-vindas. Notei com espanto que, excetuando seu cabelo cor de cobre, ele mostrava notável semelhança comigo.

-Láhiri, voce chegou!

- O santo dirigia-se a mim afetuosamente em hindi.

- Descanse aqui, nesta caverna. Fui eu quem o chamou.

-Entrei na pequena gruta limpa, contendo diversas mantas de lã e algumas escudelas para água.

- Láhiri, lembra-se deste assento? O iogue apontou para um cobertor dobrado no canto da gruta.

- Não, senhor. - Algo confuso pela estranheza de minha aventura, acrescentei: - Devo ir-me agora, antes do crepúsculo. Tenho o que fazer pela manhã no escritório.

O misterioso santo respondeu em inglês: - O escritório foi trazido para voce e não voce para o escritório.

Emudeci, aturdido por este asceta da floresta não só falar inglês mas também parafresear as palavras de Cristo.

-Vejo que meu telegrama surtiu efeito.

- O comentário do iogue era incompreensível para mim; indaguei o que significava.

- Refiro-me ao telegrama que o trouxe a estas regiões isoladas. Fui eu quem silenciosamente sugeriu à mente de seu chefe esta transferência para Ranikhet. Quando alguém sente a sua unidade com os homens, todas as mentes se convertem em estações transmissoras, através das quais se é possível operar à vontade.



- Ele acrescentou: Láhiri, esta caverna lhe parece familiar, não é?

Enquanto eu permanecia em desnorteado silêncio, o santo aproximou-se e delicadamente golpeou minha testa. Sob esse toque mágico, uma corrente maravilhosa atravessou-me o cérebro, revivendo as doces recordações latentes de minha vida anterior.

- Recordo-me! Minha voz se afogava em soluços de alegria. - O senhor é meu guru Bábaji, que sempre me pertenceu!

Enquanto inefáveis reminiscências me subjugavam, eu, em lágrimas, abraçava os pés de meu mestre.

- Durante mais de tres décadas esperei que voce regressasse a mim!

A voz de Bábaji vibrava de amor celestial.

-Voce deslizou para longe, desaparecendo nas ondas tumultuosas da vida-pós morte. Mas embora voce me perdesse de vista, eu nunca o perdi! Através da escuridão, tempestades, marés e luz eu o segui, como ave materna escoltando o seu filhote. Quando sob a forma de um menino, voce chegou ao término de sua existência intra-uterina, e nasceu para este mundo, meu olhar o acompanhava ainda, sempre.

Quando, em sua infância, voce cobriu com as areias seu diminuto corpo em posição de lotus, eu estava invisível, mas presente. Mes após mes, ano após ano, cheio de paciência zelei por voce, aguardando este dia perfeito. Agora voce está aqui comigo!



- Meu guru, que posso dizer? Onde alguém já soube de semelhante amor imperecível? Extasiado contemplei longamente meu perpétuo tesouro, meu guru na vida e na morte.

- Láhiri, voce necessita de purificação. Beba o óleo desta escudela e deite-se à margem do rio.

Pensei com rápido sorriso de reminiscência, que a sabedoria prática de Bábaji se adiantava sempre, como mastro de proa.

Obedeci às instruções. Embora a fria noite do Himalaia viesse descendo, uma quentura, uma radiação confortadora, começou a pulsar dentro de mim. Maravilhei-me.

Estaria o óleo desconhecido impregnado de calor cósmico?

Muitas horas passaram rapidamente; memórias desvanecidas de uma existência anterior entrelaçavam-se ao atual e brilhante paradigma de reunião com meu divino guru.

Minhas solitárias cismas foram interropidas pelo som de pisadas que se aproximavam. Na treva, gentilmente, a mão de um homem me ajudou a levantar e deu-me alguma roupa seca.

-Venha irmão - disse meu companheiro. - O mestre o espera.

Ao chegar a uma volta do caminho, a noite sombria foi repentinamente iluminada por um esplendor estável na distância.

Será o nascer do sol? - perguntei. - Uma noite inteira já se passou?

- É meia noite. - Meu guia riu suavemente.

- Aquela luminosidade é a cintilação de um palácio de ouro, materializado aqui, esta noite, pelo incomparável Bábaji.

No obscuro passado, voce uma vez expressou o desejo de desfrutar as belezas de um palácio. Nosso mestre está agora satisfazendo esse desejo seu e livrando-o assim do último laço de seu carma. O magnifíco palácio será o cenário de sua iniciação esta noite, em Kriya Yoga. Todos os seus irmãos aqui, se reunem num hino de júbilo pelo fim de seu exílio. Contemple-o!

Erguia-se diante de nós, um vasto palácio de ouro rutilante. Com adornos de incontáveis jóias, situado entre jardins paisagísticos, refletidos em lagoas tranquilas - um espetáculo de beleza ímpar!

Segui meu companheiro até um espaçoso vestíbulo de recepção. Aroma de incenso e rosas flutuava no ar; lâmpadas veladas esparziam um brilho multicolorido. Pequenos grupos de devoltos, alguns de pele clara, outros de epiderme escura, cantavam ou sentavam em silêncio, imersos em íntima paz. Uma alegria vibrante impregnava a atmosfera.

- Olhe e regale-se; desfrute os esplendores artísticos do palácio, pois foi criado exclusivamente em sua honra - comentou meu guia, sorrindo com simpatia às minhas exclamações de assombro.

Irmão - disse eu, a beleza desta estrutura ultrapassa os limites da imaginação humana. Por favor, explique-me o mistério de sua origem.

Os negros olhos de meu companheiro brilhavam de sabedoria.

- Nada existe de inexplicavel acerca desta materialização. O cosmo inteiro é uma projeção do pensamento do Criador. Este pesado torrão de terra, flutuando no espaço, é um sonho de Deus.




Ele extraiu de Sua mente todas as coisas, assim como o homem, durante o sonho, reproduz e infunde vida a um mundo povoado de criaturas. Primeiramente, o Senhor criou a terra no plano da idéia. Insuflou-lhe vida; a energia atômica e depois a matéria passaram a existir. Ele coordenou os átomos da terra de modo a formar uma esfera sólida. A vontade de Deus mantém a coesão de todas as moléculas. Quando Ele retirar Sua vontade, todos os átomos da terra se transformarão em energia. A energia atômica regressará à sua fonte: a Consciência.

A idéia "terra"não mais terá existência objetiva.

A substância de um sonho se mantém materializada graças ao pensamento subsconsciente do sonhador. Quando este pensamento coesivo se retira, porque o homem despertou,o sonho e seus elementos se dissolvem. Um homem dorme e erige uma criação-de sonho que ele desmaterializa sem esforço ao despertar. Imita o exemplo arquetípico de Deus. Assim também, quando acorda para a Consciência Cósmica, ele desmaterializa sem esforço a ilusão que é o universo, sonho-cósmico.

Sintonizado com a infinita Vontade onipotente, Bábaji pode ordenar aos átomos elementares que se combinem e assumam qualquer forma.

Este palácio de ouro, instantaneamente criado, é real - no mesmo sentido em que o nosso planeta é real. Bábaji tirou de sua própria mente esta bela mansão e está mantendo unidos os átomos pelo poder de sua vontade, assim como o pensamento de Deus criou o nosso planeta e Sua vontade o mantém. Quando esta estrutura tiver servido a seu objetivo, Bábaji a desmaterializará.



Quem quer que alcance a consciência e a experiência de filho de Deus, como Bábaji, pode atingir qualquer objetivo com os infinitos poderes dentro de si. Uma pedra contém secretas e estupendas energias atômicas; assim também o mais ínfimo dos mortais é uma central elétrica de divindade.

Nosso grande guru criou este palácio, solidificando miríades de raios cósmicos livres.

Apalpe este vaso e seus diamantes; eles suportam com êxito qualquer teste da experiência sensorial.

Examinei o vaso. Suas jóias eram dignas da coleção de um rei. Deslizei minhas mãos pelas paredes da sala, espessas de ouro reluzente. Grande satisfação mental empolgou-me.

Um desejo, oculto em minha subconsciência desde vidas pretéritas, parecia, simultaneamente, saciar-se e extinguir-se.

Meu sábio companheiro guiou-me, através de arcos e corredores ornamentados, até uma série de câmaras ricamente mobiliadas em estilo de palácio imperial. Penetramos num salão imenso. No centro achava-se um trono de ouro, incrustrado de jóias que emitiam faiscante mistura de cores. Ali, em posição de lótus, sentava-se o supremo Bábaji.



Ajoelhei-me a seus pés, no soalho lustroso.

- Láhiri, voce ainda se regala com seu desejado palácio de ouro?

Os olhos de meu guru cintilavam como suas próprias safiras.

- Acorde! Todos os seus anseios terrenos estão a ponto de extinguir-se para sempre!.

Ele murmurou algumas palavras místicas de benção.

- Levante-se meu filho. Receba sua iniciação no reino de Deus, por meio de Kriya Yoga.

Bábaji estendeu a mão, um fogo de homa (sacrifício) surgiu, cercado de flores e frutas.

Recebi a libertária técnica de ioga em frente a este altar flamejante.

O ritual acabou ao despontar a aurora. Em meu estado de êxtase, não sentia necessidade de dormir.
Vaguei pelas salas do palácio, repleto de tesouros e de requintados objetos de arte, e visitei os jardins.



Entrando de novo no palácio, busquei a presença de meu mestre. Ele ainda achava-se sentado no trono, rodeado de muitos discípulos quietos.

- Láhiri, voce está com fome. Feche os olhos.

Quando os reabri, o palácio encantado e seus jardins haviam desaparecido. Os corpos de Bábaji e de seus discípulos, e o meu próprio, encontravam-se agora todos sentados na terra nua, no lugar exato do palácio esvanecido, não muito longe das aberturas ensolaradas das grutas rochosas.

- O palácio já serviu ao propósito para o qual foi criado. E ergueu do chão um recipiente de barro. - Ponha sua mão aqui e receberá o alimento que desejar.

Toquei a tigela; surgiram pães quentes fritos em manteiga, caril e frustas cristalizadas.

Ao come-los, notei que a tigela continuava sempre cheia. No fim da refeição, olhei em volta, procurando água.
Meu guru apontou para a tigela diante de mim. O alimento sumira; em seu lugar havia água.

- Poucos sabem que o reino de Deus inclui o reino das satisfações mundanas. - observou Bábaji - O reino divino estende-se ao terrestre, mas este, ilusório por natureza, não contém a essência da Realidade.

Bem amado guru, ontem à noite, recebi a prova do vínculo de beleza entre o céu e a terra!

Sorri à recordação do palácio desaparecido. "



Amigos blogueiros alguns livros tocam a alma, e desperta o espírito para a "consciência si", este livro mudou minha vida e fez uma revolução espiritual. Eu estava navegando na net, quando me deparei com este texto. no site "Almas Divinas" e pedi permissão a proprietária do site para publicar alguns textos aqui em meu espaço. Este texto emociona a alma e desperta o espírito.
Paz Profunda!



Fonte: Yogananda Paramahansa. Autobiografia de um Yogue. Tradução: Antônio Olinto, Lúcia Sweet Lima e Luiz Carlos Lisboa. Lótus do Saber Editora. Teresópolis.RJ

http://www.almasdivinas.com.br/vida/grande_encontro.htm


Um comentário:

angela disse...

Muito especial esse texto. Adorei ler.
beijos