30 de mai. de 2014

"De augúrios da inocência"




- William Blake -

Ver um mundo num grão de areia,
E um céu numa flor do campo,
Capturar o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora

Um tordo rubro engaiolado
deixa o céu inteiro irado
Um cão com dono e esfaimado
prediz a ruína do estado
Ao grito da lebre caçada
da mente, uma fibra é arrancada
Ferida na asa a cotovia,
um querubim, seu canto silencia....
Toda noite e toda manhã linda,
uns nascem para o doce gozo ainda
outros nascem numa noite infinda
Passamos na mentira a acreditar
quando não vemos através do olhar
que uma noite nos traz e outra deduz,
quando a alma dorme mergulhada em luz
Deus aparece e Deus é luz amada
para aqueles que na noite têm morada
E na forma humana se anuncia,
para aqueles que vivem nas regiões do dia.




 
"Cada um de nós conhece a linguagem da própria alma, apenas não lembra qual o poema-canção que a constitui. Isso explica porque alguns textos nos "deslocam" do nosso eixo: é um (re)conhecimento da linguagem primordial, aquela que nos traduz em nossa verdadeira essência.

Ao ler um poema que nos "toca", estamos lendo um pedacinho de nós mesmos. A magia instala-se neste (re)encontro com nosso "eu" mais profundo, ainda inexplorado e adormecido, que jaz submerso pela ação do mundo das aparências."


 Eu fico pensando com os meus botões, a  poesia toca numa linguagem sutil e vibra nos labirintos da alma... A ressonância é pessoal e traduz a nossa essência original. E cada pedacinho de nossa noite escura d'alma é trazido a luz do dia, numa magia que descotina num encontro de sombra e luz vibrando a ser explorado além das aparências.

E só depois cair a ficha de nossas inconclusões.
Conspiração da vida e da luz.
Paz Profunda!

Norma Villares

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